domingo, 9 de novembro de 2008

Estudantes fogem de cursos de economia

Pouco mais de 60 mil jovens estudavam economia em 2003.
Em tempos de explosão de vagas do ensino superior, o curso de ciências econômicas comeu poeira. Entre 1991 e o ano retrasado, o número de alunos matriculados caiu 14%. No mesmo período, o número de estudantes de administração, por exemplo, quase triplicou, alcançando a marca de mais de meio milhão de universitários.
Levantamento do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), autarquia vinculada ao Ministério da Educação, mostra que os cursos que, de uma forma ou de outra, podem "concorrer" com o de economia pela preferência dos vestibulandos se deram bem melhor nos últimos anos. Cresceram os números de matriculados em administração, direito, contabilidade e engenharia.
A década de 90 e o início dos anos 2000 foram definitivamente dos cursos de administração, pelo menos se o termômetro é o número de pessoas estudando a disciplina. Foram, em 2003, 565 mil matrículas. Volume que coloca o curso no primeiro lugar no ranking nacional da preferência dos universitários.
No mesmo ano, os que estavam sentados nos bancos de economia chegavam a pouco mais de 10% do total de estudantes de administração. O desinteresse se explica. Por um lado, parte dos jovens diz acreditar que estudar economia os levará a uma estrada cujo único fim é o mercado financeiro -a um banco ou, talvez, à Bolsa. Por outro, há quem associe a profissão a planos econômicos mirabolantes e fracassos recorrentes, algo não tão "pé no chão" quanto eles gostariam. Uma boa parte corre para os cursos de administração, em que esperam encontrar uma formação mais abrangente do que a dos economistas.
"Os estudantes avaliam que o curso de administração é mais amplo, com uma formação que abrirá portas para buscar vaga em várias áreas", diz Silvio Bock, da Nasce Orientação Vocacional.
"Intromissões"
Correta ou não, essa percepção tem mantido os jovens longe dos bancos dos cursos de economia. Curioso é que o desinteresse no Brasil ocorre justamente quando os economistas, a princípio, têm visto seu campo de trabalho aumentar. É pelo menos essa a conclusão inevitável de quem dá uma olhada rápida no tipo de pesquisa em que eles têm se envolvido.
Mais do que o mundo do dinheiro e da Bolsa, hoje há economistas se "intrometendo" em várias áreas. Entre os mais recentes trabalhos disponíveis no site do NBER (sigla em inglês para Serviço Nacional de Pesquisa Econômica e importante centro americano), há pesquisas sobre como os pais decidem em que escola colocar os filhos, ou sobre possíveis explicações para a taxa de suicídio entre jovens, ou ainda uma avaliação sobre o quanto os trabalhadores são ouvidos nas empresas. Há economistas atuando em saúde, trânsito, educação, legislação.É claro que eles se intrometem com o que sabem, como economistas, e estão sempre a postos para avaliar o quanto cada escolha irá custar em uma situação específica. A administração municipal deve colocar um pedágio nos acessos ao centro da cidade para reduzir o trânsito?
Com muita estatística, econometria e acesso aos dados sobre tráfego e sobre o comportamento dos motoristas, os economistas podem ajudar a prever quais seriam as mudanças, se elas valeriam a pena, quais seriam os prós e contras da medida."O economista recebe uma formação ampla. Formação que permite com que ele lide com processos de escolha, quando existem restrições de recursos. Essa é uma situação que ocorre em todas as áreas", afirma Heron do Carmo, economista e presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo).Ele não arrisca uma única resposta sobre a origem do desinteresse dos jovens. Anos de crises, com inflação nas alturas e descontrole macroeconômico, diz Heron, podem ter criado a impressão de que a profissão está intimamente ligada ao mundo do dinheiro, das contas e das planilhas financeiras. Esse pode ser o mundo dos economistas, como muitos outros, diz Heron. Para tentar derrubar os mitos ou desentendimentos, o Corecon lançou até uma campanha publicitária (leia texto nesta página) no início deste ano, com cartazes pelo metrô de São Paulo, tentando mostrar que o trabalho dos economistas ultrapassa a Bolsa de Valores.A economia brasileira anda mais em ordem do que no passado, lembra Heron. O que, porém, não significa, na avaliação dele, que está mais fácil lidar com ela. "Hoje, a economia é mais aberta. Estamos mais conectados com o mundo. E, justamente por isso, ter um economista para ajudar a planejar, a prever, a entender os cenários nacional e internacional é cada vez mais necessário", diz o economista do Corecon.
Fonte: Folha de S.Paulo

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